THE WEST IS THE BEST - desenho, pintura, instalação multimédia - Galeria SERPENTE, rua Miguel Bombarda, Porto - 19 janeiro a 26 fevereiro 2013.
“De Coca-Cola numa
mão e comando de tevê na outra, temos que pensar em novos modos de fazer a
revolução!”
(carta
apócrifa de Jean Baudrillard, incluída no conto “Paraíso Futebol Clube”, de
Sérgio Almeida)
O óbvio,
esse ladrão sem alma, diz-nos que a obra de Paulo Moreira é toda ela virada
para a confrontação e para o excesso.
Seja. Para
apaziguar as suas inseguranças, não encontrou a espécie humana melhor forma do
que rotular o desconhecido, julgando assim aprisionar o medo em categorias
artificiais.
E, contudo,
não tenhamos por um só instante dúvidas em apodar de intimistas estas pinturas
ora brutais ora sacrílegas nas quais nos entrevemos com uma nitidez que
porventura não desejaríamos.
Porque “a
revolução somos nós”, como assegura um dos títulos dos trabalhos aqui expostos,
há nesta aparente desordem e conflitualidade uma aproximação à nossa essência
mais secreta que não encontramos em muitos lugares. Muito menos, seguramente,
em trabalhos que pretendem desvendar os recantos da nossa, digamos, alma e mais
não fazem, afinal, do que exibir matéria amorfa, tão estranha como estes dias
em que a lucidez tem pouso incerto.
Não nos
iludamos. É mesmo no reduto do eu que nos situamos quando o artista nos exibe,
uma após outra, as máscaras deformadas em que, sem o saber, nos querem
transformar.
A partir dos
escombros de uma sociedade em estado negatório, porque desconhecedora do seu
rosto original, Paulo Moreira propõe que não nos cinjemos aos limites em que as
luminárias do(s) costume(s) nos querem aprisionar. O modo de vida com que nos
povoaram os sonhos desde o berço encontra-se esgotado? A consciência dos que
nos governam nunca esteve tão limpa por jamais ter sido usada? “Ainda Não é o
Princípio Nem o Fim do Mundo; Calma, é Apenas um Pouco Tarde“, como diria
Manuel António Pina.
As ruínas
serão as nossas auto-estradas do futuro. Deslizaremos nelas à velocidade do
pensamento enquanto observamos o sol a desaparecer do horizonte. Com a cabeça
do nosso algoz debaixo do braço.
Sérgio Almeida
Espinho, 17 de Janeiro de 2013
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