sábado, 2 de fevereiro de 2013

THE WEST IS THE BEST @ galeria SERPENTE, Porto




THE WEST IS THE BEST - desenho, pintura, instalação multimédia - Galeria SERPENTE, rua Miguel Bombarda, Porto - 19 janeiro a 26 fevereiro 2013.

De Coca-Cola numa mão e comando de tevê na outra, temos que pensar em novos modos de fazer a revolução!” 
(carta apócrifa de Jean Baudrillard, incluída no conto “Paraíso Futebol Clube”, de Sérgio Almeida)


O óbvio, esse ladrão sem alma, diz-nos que a obra de Paulo Moreira é toda ela virada para a confrontação e para o excesso.
Seja. Para apaziguar as suas inseguranças, não encontrou a espécie humana melhor forma do que rotular o desconhecido, julgando assim aprisionar o medo em categorias artificiais.
E, contudo, não tenhamos por um só instante dúvidas em apodar de intimistas estas pinturas ora brutais ora sacrílegas nas quais nos entrevemos com uma nitidez que porventura não desejaríamos.
Porque “a revolução somos nós”, como assegura um dos títulos dos trabalhos aqui expostos, há nesta aparente desordem e conflitualidade uma aproximação à nossa essência mais secreta que não encontramos em muitos lugares. Muito menos, seguramente, em trabalhos que pretendem desvendar os recantos da nossa, digamos, alma e mais não fazem, afinal, do que exibir matéria amorfa, tão estranha como estes dias em que a lucidez tem pouso incerto.
Não nos iludamos. É mesmo no reduto do eu que nos situamos quando o artista nos exibe, uma após outra, as máscaras deformadas em que, sem o saber, nos querem transformar.
A partir dos escombros de uma sociedade em estado negatório, porque desconhecedora do seu rosto original, Paulo Moreira propõe que não nos cinjemos aos limites em que as luminárias do(s) costume(s) nos querem aprisionar. O modo de vida com que nos povoaram os sonhos desde o berço encontra-se esgotado? A consciência dos que nos governam nunca esteve tão limpa por jamais ter sido usada? “Ainda Não é o Princípio Nem o Fim do Mundo; Calma, é Apenas um Pouco Tarde“, como diria Manuel António Pina.
As ruínas serão as nossas auto-estradas do futuro. Deslizaremos nelas à velocidade do pensamento enquanto observamos o sol a desaparecer do horizonte. Com a cabeça do nosso algoz debaixo do braço.

Sérgio Almeida


Espinho, 17 de Janeiro de 2013