segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SEM FILTRO # JAÉN



CONFIGURACIÓN y DISCURSIVIDAD en ARTE ACTUAL - del 24 Noviembre de 2010 al 9 Enero 2011 - SALA de EXPOSICIONES CENTRO, calle Federico de Mendizabal nº 2 , 2ª planta - Jaén (Andaluzia)



SEM FILTRO # JAEN - 2010
By Paulo Moreira

A indiferença asséptica de alguns mortais, não encontrará provavelmente uma visão apaziguadora do real nas obras de Paulo Moreira (1968), desprendidas de qualquer ideia de conformismo ou resignação. A primeira tentativa para escrever sobre a obra deste criador é colocar a mesma ao nível do autor, isto é, referir as inquietações que o motivam. O exercício de viver. Habitar no limiar da indisciplina – tal como as imagens, poderosas determinadas por um uso da vida mediado por uma lógica do corpo, dos seus vícios. Na possibilidade de múltiplos pensamentos povoarem o mesmo espaço de, coexistirem na mesma imagem, “existe uma zona – parafraseando Jean Cocteau – onde se vive a ilusão, onde se confunde o real com o que se pretendia o fosse; onde o real é a memória recorrente, esse tempo de eterno retorno a que se referia Octavio Paz.”1.
A bem que possamos voltar atrás no tempo; a uma altura pioneira no desenvolvimento das novas expressões artísticas que agora designam o panorama visual contemporâneo, das experiências poéticas de Tristan Tzara ou André Breton, seguindo até William S. Burrougs e Brion Gysin ou a tradição artística Americana legada após a década de 1980 até aos nossos dias; na tentativa de compreendermos o léxico de referenciais cruzados, aplicados frequentemente de forma eclética - denunciada pela diversidade de meios e suportes que o autor utiliza; repare-se que é contudo, o Desenho, enquanto disciplina de conceito alargado e transversal, o modo preferencial de abordagem na construção do ideário estético do artista. 
 A relação viva com a vida, o quotidiano básico, encontra campo fértil às formulações do pintor, espaço onde a palavra escrita prescreve parte do vocabulário visual, em exercícios linguísticos que de certa forma vêm reforçar estádios de agitação emocional no espectador. Sublinhe-se também, a estreita ligação do pintor à música, à literatura/poesia e às artes performativas, factor marcadamente vincado na sua obra através das performances que o próprio realiza quer sob o pseudónimo de Boris Fortuna, quer em conjunto com “O Sindicato do Credo” – colectivo de performances poéticas que o mesmo fundou.

                                                            Antónia Wollghemutt, Porto Outubro 2010


1 - In: “Fora de Serviço (o verbo enrolado) ” – Maria de Fátima Lambert, Catálogo da exposição “Fora de Serviço (O Verbo Enrolado) ” de Paulo Moreira – Galeria Serpente, Porto 2010.
















 








quinta-feira, 5 de agosto de 2010

ENTRE MUROS - DIÁLOGOS ENCERRADOS

ENTRE MUROS - DIÁLOGOS ENCERRADOS


Intervenção plástica em parceria com JOANA NEVES no Museu Municipal de Espinho - F.A. C.E. - Fórum de Arte e Cultura de Espinho de 12 Junho a 29 Agosto de 2010.




- SOBRE "ENTRE MUROS - DIÁLOGOS ENCERRADOS":

"Designar por “projecto-comum” o trabalho de Joana Neves e Paulo Moreira será a forma única de entendimento da obras que aqui apresentam. Na origem, o diálogo, facto que poderá confundir-se com dois monólogos; justificáveis só pela descoberta da partilha de ideias e pensamentos comuns, causadores ou impulsionadores de inquietudes.
O “diálogo” como ponto de partida e de chegada; o confronto e as divergências expressivas na procura de confluências estéticas constituiram-se como pensamento primeiro, na urdidura do enredo. Como resultado, a articulação de várias obras, realizadas em diferentes tempos e territórios, pedaços para um todo pensado sob o aspecto de objecto uno. Uma forma de criar ligações, novos pressupostos, novas significações.
“Entre-Muros – Diálogos Encerrados” – Sobre o projecto, inscrever as obras aqui apresentadas como impossibilidades comunicantes das normas instituídas à formatação do quotidiano, tudo se passa entre-muros, sejam os do museu, sejam os do indivíduo ou os da norma estabelecida.
“Entre-Muros – Diálogos Encerrados” é um apelo à reflexão sobre as barreiras que são impostas ou a que nos auto-impomos. Um convite à libertação do indivíduo e à afirmação deste; do que resulta das vivências e não dos muros em que tantas vezes nos encerramos".

Antónia Wollghemutt
 
 


Joana Neves - Instalação (detalhe)



PAULO MOREIRA:

"Punk`s Not Dead" 2010 - Acrílico sobre tela


"La rivoluzione Siamo Noi" - 2010 - Acrílico sobre mdf - 160 cm. diâmetro



"Gestape" - 2010 - Acrílico sobre madeira 135 X 97 cm


 "Peacefull Poetry" - 2009 - Acrílico com colagens sobre ampliação fotográfica em tela 360 X 280 cm 
(foto de Alexandre Nobre)


"Cuba Libre" - 2009 - Acrílico sobre tela - 150 X 400 cm


"Anti No Act - Wher`s th Prty Babe?" - 2009 - Acrílico sobre tela - 150 X 400 cm


"Own Your Time/ Things Change" - 2010 - cerâmica sobre madeira.


Nota do Bloger: apesar de se tratar de uma amostra conjunta, tal como o texto acima publicado refere, decidi publicar com maior destaque a obra de Paulo Moreira uma vez que é sobre o seu trabalho que este sítio se propõe apresentar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

SINDICATO do CREDO - RESGATAR a POESIA

 
ALBA, SÓ - Contributos para uma celebração - Sebastião ALBA visitado - ao celebrar-se o décimo aniversário sobre o desaparecimento do Poeta de Braga, o colectivo de performances de poesia apresenta o espectáculo ALBA, SÓ - contributos para uma celebração. O repto foi lançado em Março de 2010 com a apresentação de quatro performances na Galeria e Livraria LABIRINTHO, Porto. O sucesso das primeiras apresentações atirou este colectivo para novos espaços, como galerias de arte, teatros e festivais internacionais de musica, a exemplo do festival de Paredes de Coura.

Diseurs: - Paulo Moreira
        - Pedro Piaf 
Trilha Sonora: - Pedro Piaf
Máquinas & mesa de misturas: - Dj. Nel Colaça
Contrabaixo: - Sérgio Costa
Pesquisa & programação: - Sérgio Almeida
Video projecção: - Vj. Broken TV.
Video Realização & Pesquisa Imagem: Paulo Moreira
Fundação: - Paulo Moreira & Sérgio Almeida



Imagens do SINDICATO do CREDO em Paredes de Coura 
dia 29 Julho 2010 - palco JAZZ na Relva Paredes de Coura Festival






sábado, 13 de março de 2010

FORA de SERVIÇO - 6 Março a 10 Abril - Galeria SERPENTE, Porto




FORA DE SERVIÇO (O verbo enrolado) by PAULO MOREIRA
6 Março 2010 até 10 Abril
“Experimentai dar um empurrão a um pensamento: cairá facilmente; mas o que empurra e o pensamento que é empurrado, ambos produzem esse entretenimento que se chama discussão. Vamos ter uma mais tarde? Ou simplesmente podemos decidir que não vamos ter uma discussão. Como queiram.(…)”
John Cage, “Conferência sobre o nada”, Silence
Demasiadas palavras, demasiadas imagens...tudo estará em excesso se assim o quisermos subscrever. Não é o caso; diria que mais palavras viessem e mais imagens as invadissem. Existe uma zona – parafraseando Jean Cocteau – onde se vive a ilusão, onde se confunde o real com o que se pretendia o fosse; onde o real é a memória recorrente, esse tempo de eterno retorno de que nos falava Octavio Paz.
Na minha configuração mental do que seja Fora de Serviço (o verbo enrolado), divido-me entre um vocabulário visual que o pintor nos tem vindo a apresentar ao longo dos anos, acrescido de novos ícones e formulações e a esteriotipização pragmática da língua que reina em exercícios de volúpia insondáveis. Certamente, entrarei num labirinto organizado onde os motivos visuais convivem ad libitum com excertos de textos de valência performática...recuperando tópicos de conversas com Paulo Moreira. Diga-se que vou entrar – once and again – em zone. Pois as palavras escritas correspondem a desígnios, traduzem uma compulsividade criadora que remonta aos primórdios, às origens das expressões artísticas. Recapitulando: sabe-se que a triunica choreia teve a sua origem e sequência nos cultos órficos e dionisíacos...Essa tríade – música, poesia/canto e dança – posteriormente designada por “artes expressivas”, persistiu na primazia da explosão psico-afectiva, procurando redenções catárticas e preconizando muito do que seriam as questões relacionadas com uma certa modalidade estética de recepção por parte dos públicos na contemporaneidade...
A capacidade em suscitar, em provocar estádios supremos de agitação emocional nos espectadores era um dos indicadores do dom (outorgado pelos deuses) e pelo virtuosismo do aedo, esse antepassado – talvez – do performer, do artista que seja em si obra. Ou seja, assim se entenda que ao penetrar em fora de serviço se desencadeiem (presumo isso possa ocorrer) enunciações de angústia, de contorcionismos afectivos, de pulsões radicais (perdoe-se o pleonasmo)... Sublinhe-se o facto dessa profunda aderência do pintor à música e à literatura. Estas constroem uma unidade com as suas musas visuais que Paulo Moreira acreditou...
A condição performativa subjaz à intencionalidade realizadora da obra em exposição; seria uma dupla exposição: as obras bi e tridimensionais e, por outro lado, a assunção identitária que assume as afirmações e deambulações semânticas versus os delírios iconográficos e iconológicos patentes.
E, no centro de tantos elementos, de tanto pensamento, impõe-se o silêncio.
Maria de Fátima Lambert, Porto 2010

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

- FORA de SERVIÇO - Galeria SERPENTE, 6 Março, Porto





Das Palavras e das Imagens: O Desenho -Multimédia


A utilização eclética de meios e suportes - uma aparente indisciplina assesta o Autor para territórios que o levam a assumir-se como objecto central da trama global, sendo ele próprio quem articula esses meios, da escrita, ao desenho, à fotografia, à instalação, à performance e ao Vídeo. Encaradas formas de expressão da liberdade criativa demonstrativas das capacidades do autor em manobra-los de forma multidisciplinar, na opinião de Perejaume[1], poderão transforma-lo em herdeiro de um certo “vanguardismo”, uma vez que estas formas de expressão fazem parte de uma evolução dos processos e dos meios.

[1] In “O autor indisciplinado”, catálogo da exposição “Entre a Palavra e a imagem” – Lisboa, 23 de Fevereiro a 29 Abril 2007, Museu da Cidade, Pavilhão Branco e Pavilhão Preto.









- FORA de SERVIÇO - desenho-multimédia - 6 Março
- Galeria SERPENTE, Porto, 2010



O Grifo Real recortou-se no cascalho salgado e eclipsou o lírio bamboleante. Visão púrpura na parada florida. Cospe decibéis de fogo há três dias sem pestanejar o fio dental preso no néon. Alucinante cadencia, turba endiabrada. A silhueta ruminante do Lucky Luke já não fuma Lucky Strike. Acendam-se os “chamiços” do mundo, faça-se um brinde saudavelmente feliz. Mozart foi para casa compor um “requiem”.






Enxuto, seco e sem descanso deixou-se ficar encostado à penedia observando ao longe qual azul imenso bravio. Espumado de ira tentou ver o que do outro lado ouvia. Deu um passo. Depois outro. Depois foi a casa, a correr, buscar a mulher e os filhos. Pelo telemóvel chamou os amigos, as mulheres e os filhos e os outros amigos. Assomaram o precipício vazio. Espumados de assanho todos queriam ver o dourado das cornetas engalanadas, do outro lado. O odor neblino a podre, escureceu o horizonte. Acenderam archotes vitoriosos. Todos deram um passo, seguiram em frente. Do norte, o vento fresco traz o meloso cheiro das flores presas no bouquet flutuante.







O jardineiro que desadorava flores aos sábados à tarde passeava de charrette e comia bolas de Berlim açucaradas – O povo è sereno, o povo è sereno, o povo è sereno, o povo è sereno – Wagner foi à casa de banho fumar um charuto e logo vieram os agentes de fato preto e camisa branca, ouvia-se na telefonia o descarregar deslavado do autoclismo, agora o jardineiro só sai de casa quando açaimado em dias banais. Ficaram-lhe com as bolas, levaram-lhe o ouro, confiscaram-lhe a mulher mas ofereceram-lhe um motorista montado num jaguar prateado, um par de ligas rosa choque fluorescente, chamam-lhe doutor ou engenheiro, consoante faça sol ou faça chuva. É feliz nos discursos que lê para a nação.








Uma nova raça invadiu o país da cadeira que matou o ministro. Réplicas quase genuínas à escala natural. - Há quem veja o mel e o maná do futuro na lente de uma super 8. Pessoalmente prefiro cabrito assado ou carapaus grelhados com arroz de feijão e um tinto do Alentejo. - Tais cadeiras trouxeram o desassossego do pensamento, inquietudes assomaram-se desejos e cobiçaram a mulher do patrão. Às quartas-feiras sai com o motorista, vai ao cabeleireiro depois enfia-se no motel até à hora de ir buscar os miúdos ao colégio. Asfixiado na lapela Channel do saia-casaco, o camafeu de brilhantes distribui enojados afectos sorridentes, gesticula, graciosamente proclama o fim do regime e o advento da nova raça. Quem puder que se sente.